quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ARTIGO: E quando chegar a nossa vez?




Foto: Internet


 
Hoje pela manhã presenciei uma cena forte, estarrecedora, triste...

Sete e quinze, avenida Historiador Rubens de Mendonça.



Uma idosa, com grande dificuldade de locomoção, no alto dos seus setenta e poucos anos, tentava entrar no ônibus em que eu estava. 

O esforço para subir degrau por degrau anunciava a dor que ela sentia, mas que se fazia necessário.

Não bastando a dificuldade da escalada, o arrancar do motorista quase a lançou para fora do coletivo, provocando naquele momento certa tensão em todos passageiros. Mas ela, determinada, conseguiu segurar em um apoio, mesmo cambaleante, permanecendo dentro do ônibus.

Enfim, estava lá, dividindo o espaço limitado com estudantes e trabalhadores que atentos aguardavam o desfecho da situação.

Se Newton estivesse lá, talvez reconsiderasse a lei homônima sobre dois corpos não ocuparem o mesmo espaço, mas a senhora prosseguiu.

E nesse cenário, ela lançou um olhar desesperado a sua volta à espera que alguém oferecesse o que por direito a ela pertencia - um assento, o que não aconteceu.

Aos lugares destinados aos idosos estavam jovens e adultos que com certeza não se enquadravam nos requisitos para uso do assento e a senhora ali.

Não era possível que ninguém percebesse nos olhos daquela velhinha o sofrimento para permanecer em pé.

Foi quando tomado, por um rompante, um homem esbravejou: - Ei, alguém vai levantar?

Entretanto, o silêncio da multidão misturou-se ao barulho do motor velho do veículo.

Então uma mulher de meia idade vociferou: - Levantem!

E assim, às sete horas e vinte e cinco minutos, uma jovem levantou, com um sorriso amarelo, mostrando-se indiferente com o assunto e seguiu à porta.

Tudo parecia resolvido, todos acreditavam que enfim a idosa sentaria

Mas eis que a nossa personagem, com toda humildade, agradece o gesto com um aceno e avisa que descerá no ponto em que o ônibus esta parado.

O ambiente pesou, dez minutos haviam se passado desde que a senhora entrou no coletivo e nenhuma pessoa tinha sido capaz de ceder o lugar a quem tanto necessitava.

Agora já era tarde, não adiantava mais.

E ela desceu, com a mesma dificuldade em que subiu, e continuou seu caminho até desaparecer após o arranque do motorista.

Os que estavam sentados permaneceram parados, cabisbaixos, como se sentissem vergonha da omissão com a qual compactuaram.

E quando chegar a nossa vez?

Por Marco Cappelletti

Um comentário:

  1. MARCO: Parabéns! Excelente artigo... simples e sensível, como deve ser a atividade jornalística!

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